A DECO acompanha com preocupação a evolução e o impacto nos consumidores das medidas impostas pela administração Trump relativamente ao comércio mundial.
As tarifas apresentadas por Donald Trump, no chamado “liberation day”, representam um forte entrave às exportações de um conjunto considerável de países ou blocos, como a União Europeia (UE), para os Estados Unidos da América (EUA). Para as exportações da UE, a nova tarifa é de 20% sobre todos os produtos, mantendo-se as tarifas anteriormente anunciadas de 25% sobre aço, alumínio e automóveis e peças.
Impacto para os consumidores
No imediato, esta medida tem um impacto sobre os preços dos produtos importados no mercado norte-americano, fazendo subir a fatura dos consumidores que procuram esses produtos.
Porém, poderá acontecer uma retaliação dos outros países ou blocos, impondo tarifas sobre os produtos americanos. Para já, a UE mantém um discurso de tentativa de negociação, preferindo chegar a um acordo com os EUA em vez de responder na mesma medida. Como primeira medida, foi apresentada uma proposta de tarifas zero-por-zero para produtos industriais. Todavia, algumas análises apontam para uma possível medida de retaliação, caso as negociações não sejam bem-sucedidas, de aplicação de tarifas de 25% sobre produtos importados dos EUA.
Embora não haja uma grande dependência dos consumidores europeus quanto a produtos americanos, haverá um impacto em produtos específicos, e se tal acontecer, poderá antever-se um aumento de preços, nem que seja pelo efeito de contágio das medidas em termos globais.
Havendo uma subida de preços, esta surge num momento em que os consumidores europeus ainda estão a recuperar do impacto da inflação elevada que se verificou nos anos recentes. O retorno a um potencial novo ciclo de subida do custo de vida é muito preocupante e significaria um duro golpe para as famílias. De um ponto de vista macroeconómico, poderia mesmo significar um novo ciclo inflacionista e que poderia obrigar a intervenções de política macroeconómica, com um aumento das taxas de juro para fazer face a essa inflação. Este seria um cenário alarmante, tendo em conta o impacto que se viveu recentemente com as subidas das taxas de mercado, em particular da Euribor, e o seu impacto nos créditos das famílias portuguesas.
Numa outra vertente, o impacto destas medidas já se faz sentir nos investimentos, com uma forte diminuição do valor dos ativos ligados ao mercado acionista. A perda de valor registada nos mercados desde o início da implementação das tarifas, significa uma perda considerável do valor das poupanças investidas pelas famílias.
Adicionalmente, poderá haver um aumento de importações na UE de produtos de mercados alternativos, em que as regras de produção e comercialização, bem como os produtos em si, podem violar os direitos dos consumidores, designadamente, o direito à qualidade e à segurança.
A DECO considera que a implementação de tarifas deve ser evitada, no sentido de promover o comércio mundial, proporcionando mais e melhores produtos para os consumidores. A DECO continuará a acompanhar este contexto, apelando ao Governo que tome em consideração as preocupações dos consumidores, sendo fundamental que sejam também consultados antes de tomar decisões a nível nacional.
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