Hoje, Dia Mundial das Leguminosas, instituído pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as organizações ProVeg Portugal, DECO e ZERO reforçam a importância de alimentos, como feijão, fava, ervilha, tremoço e grão-de-bico, para a segurança alimentar, sustentabilidade ambiental e nutrição humana, e reivindicam a implementação urgente de uma Estratégia Nacional para o Consumo de Proteína Vegetal em Portugal, algo já prometido pelo Governo.

 

 Leguminosas e a saúde humana

 

“As leguminosas são uma fonte económica de proteínas, hidratos de carbono complexos, fibras e fotoquímicos, além de serem ricas em minerais como ferro, zinco e magnésio e vitaminas, como o folato.”, refere Lucas Oliveira, nutricionista da ProVeg Portugal

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A alimentação inadequada em Portugal é um dos principais fatores responsáveis pela redução dos anos de vida saudável e pelo aumento da mortalidade, de acordo com o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS).

 

“O consumo regular de leguminosas e derivados, enquanto principal fonte proteica, pode ajudar a reduzir o colesterol e a melhorar o funcionamento intestinal. O seu elevado conteúdo de fibras solúveis torna-as uma boa estratégia para a redução do colesterol LDL e para o controlo dos níveis de açúcar no sangue, sendo especialmente benéficas para pessoas com diabetes e com maior risco cardiovascular. Quase todas as diretrizes alimentares nacionais, incluindo as diretrizes portuguesas, recomendam o consumo regular de leguminosas.”, afirma o nutricionista Lucas Oliveira.

 

A solução que a agricultura e o ambiente precisam

 

O cultivo de leguminosas tem também um impacto positivo na sustentabilidade agrícola. Graças à sua capacidade de fixação biológica de azoto, estas plantas reduzem a necessidade de fertilizantes sintéticos, ajudando a mitigar a poluição e as emissões de gases com efeito de estufa, melhorando, ainda,  no solo a atividade do microbioma  Estudos indicam que a introdução de leguminosas na rotação de culturas pode reduzir perdas de azoto no solo entre 15% e 30%, promovendo uma agricultura mais sustentável e eficiente. As leguminosas apresentam também uma pegada de carbono reduzida, tornando-se assim um elemento essencial para sistemas alimentares sustentáveis.

 

“A inclusão de leguminosas em rotação ou consociação pode ter benefícios diversificados: no aumento da diversidade e produtividade das áreas de cultivo, na mitigação das alterações climáticas – por via da redução do uso de fertilizantes azotados e emissões de óxidos de azoto – e até para o fomento e manutenção da biodiversidade”, afirma Pedro Horta, especialista em agricultura da ZERO. “Contribui também para uma melhor assimilação dos nutrientes pelas plantas, reduzindo a lixiviação e consequente poluição das massas de água, e previne a erosão e compactação do solo, promovendo maior diversificação, produtividade e rendimento agrícola”.

 

Segundo a FAO, o cultivo de leguminosas requer significativamente menos água do que outras fontes de proteína – apenas 1250 litros de água por quilograma de leguminosas (em comparação com 13 mil litros para a mesma quantidade de carne de vaca). Acresce que os países situados na Orla Mediterrânica, como Portugal, possuem um clima favorável ao cultivo de leguminosas, caracterizado pela abundância de luz solar e por invernos suaves.

 

A queda de produção e a dependência de importações

 

Mas, nos últimos anos, a produção nacional de leguminosas caiu drasticamente, levando a uma forte dependência de importações. Dados do Instituto Nacional de Estatística indicam que a taxa de autosuficiência de leguminosas secas em Portugal é de apenas 14%.  Ou seja, Portugal está longe de produzir a quantidade de leguminosas que consome. Segundo Pedro Horta, “a produção de leguminosas deveria ser considerada uma prioridade nacional, não apenas pela sua contribuição para a segurança alimentar, mas também pelos benefícios ambientais que oferecem ao solo e à biodiversidade.”

 

O apoio político à proteína vegetal em Portugal

 

Joana Oliveira, da direção da ProVeg Portugal, destaca que “o Governo português deve incentivar o consumo de leguminosas, não só pelo seu valor nutricional e pela sua estreita ligação à cultura gastronómica nacional, mas também pelo seu papel crucial na construção de sistemas alimentares mais resilientes. Representam uma oportunidade económica devido à sua versatilidade para desenvolvimento de produtos inovadores e ao seu baixo custo de produção, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e económica da alimentação. O investimento na tecnologia e na formação agrícola, bem como o aumento da oferta portuguesa de produtos inovadores derivados de leguminosas, é fundamental para fortalecer a cadeia de valor destes alimentos e impulsionar a economia local, permitindo que os produtores concorram com o mercado externo.

 

“Nesse sentido, garantir que os consumidores tenham acesso facilitado a estas opções alimentares é um fator determinante para a concretização desse objetivo.” Ana Tapadinhas, Diretora-Geral da DECO, reforça a importância de colocar os consumidores no centro desta transformação: “Para que os consumidores possam fazer escolhas alimentares mais saudáveis, sustentáveis e acessíveis é fundamental que existam condições que tornem esse acesso uma realidade. As leguminosas, pelo seu valor nutricional, preço acessível e baixo impacto ambiental, são uma solução essencial para um consumo mais equilibrado e responsável. Cabe às políticas públicas assegurar que estas opções estejam ao alcance de todos, promovendo informação clara, incentivos adequados e um mercado que responda às necessidades dos consumidores.”

 

O que já está a ser feito pela proteína vegetal?

 

Ao nível europeu, passos de promoção à proteína vegetal já estão a ser dados. A “Estratégia Europeia para as Proteínas” recomenda investimento na produção de proteínas vegetais e um relatório recente, dirigido à Comissão Europeia e financiado pela mesma, recomendou que se desenvolva, até 2026, um Plano de Ação para Alimentos de Base Vegetal.

 

Em Portugal, o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030) inclui uma linha de ação para promover dietas de baixo carbono, e reflete o compromisso do Governo português em criar uma estratégia nacional para promover o consumo de proteína vegetal, nomeadamente de leguminosas, capacitar e reforçar a oferta de refeições de base vegetal nas cantinas públicas e dinamizar campanhas de divulgação acerca dos benefícios do consumo das proteínas vegetais. A medida foi considerada um avanço importante, embora desafios, como falta de financiamento, prazos longos e ausência de métricas de impacto, ainda persistam.