DECO viaja do Minho ao Algarve em transporte ferroviário e descobre várias fragilidades neste transporte público essencial.
Portugal está a embarcar num dos maiores planos de investimento na Ferrovia, com a continuação da eletrificação das linhas nacionais, a reabertura de alguns troços e a criação de novas ligações rumo aos carris da Europa. Porém, os consumidores continuam à espera do comboio na paragem do autocarro!
Para ilustrar este problema, aproveitámos a viagem de Jon Worth, ativista e blogger, no âmbito da iniciativa #CrossBorderRail e apanhámos o comboio no Minho com destino a Vila Real de Santo António para lhe demonstrar os principais problemas enfrentados pelos consumidores.
Ver passar comboios no Minho
Começámos na estação de Viana do Castelo com a ideia de que os consumidores têm sempre direito à informação, nomeadamente, nas bilheteiras de atendimento ao público. No entanto, a verdade é que ainda existem estações que não permitem aos consumidores beneficiar de serviços com condições adequadas. Veja o nosso vídeo:
Ver passar comboios no Porto
Chegámos à estação de Campanhã, no Porto, e descobrimos que o nosso comboio tinha sido suprimido. As constantes supressões sem aviso prévio, bem como a ausência de alternativas equivalentes, tornam, muitas vezes, ineficazes os direitos dos passageiros. Tal é inaceitável! Para piorar, apercebemo-nos que a nova versão do Regulamento dos Direitos dos Passageiros Ferroviários prevê agora a possibilidade de o operador não indemnizar os consumidores caso as supressões ou atrasos se devam a algumas circunstâncias extraordinárias e alheias à empresa de transporte. Veja o nosso vídeo:
Ver passar comboios em Coimbra
Seguimos viagem para Coimbra, apostando em serviços mais convenientes e sustentáveis para os passageiros. Defendemos, inclusive, medidas que tornem este meio de transporte mais acessível, refletindo-se no preço o melhor impacto no ambiente. Uma das medidas poderia passar pela conjugação deste transporte com a introdução de descontos na utilização de outros modos de mobilidade mais suave. Não só se promoveria os caminhos de ferro, como também se garantiria a utilização de meios de transporte mais sustentáveis.
Ver passar comboios em Santarém
Estivemos em Santarém até às 23:30, mas tivemos dificuldades em sair desta estação, porque o último comboio já tinha partido pelas 23:07. A continuidade e adequação dos serviços de transporte ao perfil dos consumidores são valores essenciais para a sua decisão de utilização. Não nos podemos esquecer de que a incompatibilidade horária e a ausência de serviços de transporte em determinados momentos podem isolar zonas limítrofes das grandes cidades. Aumentar o número de comboios noturnos poderá constituir um incentivo para aproximar os consumidores deste meio de transporte.
Ver passar comboios na grande Lisboa
Em Lisboa aproveitámos para fazer uma curta paragem e decidimos explorar as linhas de Sintra e de Setúbal.
Melhorar os sistemas de mobilidade, com maior interligação de transportes nas diferentes interfaces e melhor oferta de serviços têm sido alguns dos desejos da DECO. Todavia, e sem prejuízo dos esforços feitos, continuamos sem uma legislação que proteja melhor os passageiros que utilizam o transporte multimodal e lhes dê maior segurança sobre os seus direitos. A transição ecológica passa, também, por aqui, pelo que a escolha e a flexibilidade nas viagens multimodais devem estar no topo dos direitos dos passageiros.
Em Sintra não apanhámos o comboio porque o mesmo estava atrasado 50 minutos e nem sequer tivemos direito a qualquer indemnização. Os passageiros têm direito a ser compensados em caso de atraso ou cancelamento, porém a recente revisão do Regulamento dos Direitos dos Passageiros Ferroviários não aproveitou a oportunidade para prever indemnizações a partir de meia hora de atraso e aumentar, pelo menos, a indemnização para 50% do preço do bilhete. Pior! A empresa tão pouco é obrigada a pagar se, por exemplo, o valor for inferior a 4 euros ou se o passageiro for titular de um passe ou assinatura.
Ver passar comboios em Évora
Voltámos à nossa viagem e passámos por Évora, apenas para descobrir que, para chegar ao nosso destino final, teríamos de regressar primeiro a Lisboa! O investimento em transportes públicos e soluções que integrem as infraestruturas ferroviárias tem de aumentar e devem ser feitos mais esforços para melhorar a comodidade dos passageiros. Cruzar o país sem necessidade de mudar constantemente de operador e garantir maior abrangência e disponibilidade são essenciais para que se adeque o transporte ferroviário às necessidades dos consumidores.
Ver passar comboios em Faro
Quase a chegar ao nosso destino parámos em Faro pelas 14 horas para mudar de comboio. Mas descobrimos que o próximo só passava depois das 15! A alternativa poderia ser o carro, mas os consumidores estão cada vez mais preocupados com o ambiente e precisam de alternativas mais sustentáveis do que o avião ou automóvel. Para garantir que alcançamos os objetivos do Pacto Ecológico e que em 2050 diminuímos em 90% as emissões dos transportes, o comboio poderá ser uma solução. Mas para isso, as concessões de serviço público têm de garantir parâmetros mais exigentes relativamente à qualidade de serviço e à proteção dos consumidores.
Chegamos ao fim desta longa viagem, Concluímos que, em Portugal, os passageiros ainda só conseguem viajar em 3ª classe. Pedimos ao Jon Worth para nos ajudar a ultrapassar estes problemas, mas sem o apoio de todos os consumidores a mudança não acontecerá facilmente.
Ajude-nos a exigir um transporte mais acessível e respeitoso dos direitos dos utentes!
Por isso, e para garantir que os operadores de transporte respeitam os seus direitos, partilhe connosco os seus problemas através da nossa linha whatsapp +351 966 449 110 ou através do formulário de contacto.
Com o seu testemunho iremos exigir um transporte mais acessível, com qualidade e que proteja melhor os seus direitos.
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